O pavimento intertravado não é permeável, aliás, sua permeabilidade é similar ao do pavimento asfáltico, ou seja, é considerado como impermeável. Entretanto, algumas pessoas e até órgãos públicos o consideram como sendo permeável, o que não deixa de ser um engano. Nos últimos anos, com a disseminação do uso de pavimentos permeáveis, o pavimento intertravado tem surgido como alternativa interessante, desde que ele atenda algumas condições: empregar como revestimento com blocos permeáveis ou empregar os convencionais, assentados com junta alargada ou áreas vazadas, posteriormente preenchidas com material permeável. Além dos blocos intertravados, o pavimento permeável pode ter outros tipos de revestimentos, como asfalto poroso, concreto poroso ou placas de concreto pré-moldado.
O pavimento permeável é, por definição (1), capaz de drenar 10-3 m/s. Isto significa que toda a estrutura, desde o revestimento até a base e a sub-base, deve atender esse número mínimo de permeabilidade, o que implica em toda a estrutura permeável, contrário do que vemos em muitas obras, onde apenas se aplica o bloco drenante, mas as camadas inferiores são pouco ou quase nada permeáveis. Portanto quando falamos em pavimento permeável, a concepção geral do projeto deve ser feita com essa consideração.
O valor 10-3 m/s corresponde à permeabilidade de uma areia grossa e até valores de 10-4 m/s a drenagem é ainda considerada boa. Como referência, solos são considerados impermeáveis para valores inferiores a 10-5 m/s, podendo atingir valores 10-9 m/s para as argilas, praticamente impermeáveis. Portanto, o pavimento drenante é capaz de dar vazões expressivas às águas de chuva, desde que adequadamente dimensionado.
Obviamente que a pergunta que você leitor deve estar fazendo é: qual o destino dessa água que permeia o pavimento? Há três opções: ser absorvida totalmente, parcialmente pelo solo ou não ser absorvida, caso de subleito impermeável ou quando há restrições ambientais, como áreas com contaminantes. As figuras 1 a 3 apresentam esquematicamente as alternativas possíveis (ABNT 16416).
O primeiro caso, com a água absorvida totalmente pelo subleito (figura 1), representa a situação ideal, na qual não há contribuição da água que cai no pavimento, no sistema de captação pluvial público ou da própria indústria. Entretanto, só é possível em terrenos arenosos, altamente permeáveis. No Brasil esses solos são relativamente comuns em bacias sedimentares, como por exemplo a Bacia sedimentar do Paraná, do São Francisco, do Parnaíba, do Amazonas etc., englobando boa parte do território brasileiro. Esses solos costumam ser porosos, mas quando compactados, caso típico de subleitos, formam camadas de baixa permeabilidade, que precisam ser adequadamente tratadas para permitir a drenagem.
Mesmo esses solos mais porosos, o coeficiente de permeabilidade poderá ser menor do que 10-3 m/s. Para garantir que 100 % da água seja drenada pelo pavimento, a sua estrutura irá funcionar como uma caixa de retardo, de modo que nos períodos de chuvas mais intensas, a água fique armazenada e posteriormente infiltrada no solo.
No caso da figura 2, onde o sistema absorve parcialmente a água que cai sobre o pavimento, ou seja, parte dela vai para o subleito e parte vai ser escoada para o sistema de drenagem convencional.
Figura 2: Infiltração parcial
O sistema sem infiltração é aplicado para subleitos de baixa permeabilidade ou quando, por razões ambientais for necessário impedir que o subleito receba águas contaminadas; neste caso, é aplicada camada impermeabilizante sobre o subleito. Com essa opção, a estrutura permeável do pavimento funciona como uma caixa de contenção, liberando gradativamente a água para o sistema de captação pluvial ou para estação de tratamento.
Figura 3: Sem infiltração
Exceto no caso de controle ambiental, a decisão do tipo de pavimento que vai ser empregado irá depender das características de permeabilidade do solo de fundação. O dimensionamento do pavimento deve ser feito com base aos processos mecânicos para definir a sua estrutura, consorciado com dimensionamento hidráulico. O pavimento permeável deve ser capaz de captar toda a água de chuva, ou seja, 100 % de permeabilidade, não devendo ocorrer, portanto, escoamento superficial.
(1)ABNT NBR 16416: Pavimentos permeáveis de concreto – Requisitos e procedimentos
Fonte: Blog LPE